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Belo Monte parou!

Uma semana depois da decisão do tribunal federal de suspender as obras, os ônibus voltaram para Altamira com os trabalhadores esta tarde, o que significa que Belo Monte parou realmente esta tarde! É uma vitoria pela justiça brasileira e internacional. Agora, que vai acontecer? Faz dós anos, um painel de científicos derrubo a viabilidade do projeto. Vai ser considerado este trabalho agora? O tempo é de analisar racionalmente o projeto (o que não foi feito) e apoiar um estudo sistêmico das obras hidrelétricas na Amazona!

Mais info: Xingu Vivo para Sempre!

O Belo Monte, obra política

Lula apoiando Dilma em 2010

Como entender a barragem do Belo Monte? Faz três semanas que estou encontrando a complexidade do projeto aqui em Altamira e só hoje, depois de dias e dias falando com pessoas, lendo artigos e informes, tenho a convicção de ter entendido do que se trata aqui. Trata-se de política de alto nível, no país continental e complexo que é o Brasil. Tudo se passa em Brasília.

A determinação do governo Dilma para realizar a obra a qualquer custo é difícil de se entender. É claro que a consciência ambiental não é muito difundida na população brasileira – seguindo o caminho dos EUA – porém, o projeto tem fortes impactos sociais e viola os direitos humanos, o que parece estar em contradição com os valores do PT, Partido dos Trabalhadores. Mas como o PT chegou ao poder? Através da aliança com empresários. Quais foram os termos dessa aliança? Não seria a realização da obra de Belo Monte uma das condições de apoio ao PT?

É impossível negar que para muitos a situação material melhorou com a chegada ao poder do partido. Por isso, e pela história de luta dos movimentos sociais que permitiram essa ascensão ao poder, esses movimentos estão hoje divididos entre os que ainda apoiam o PT, achando que é melhor tê-los no poder que outros, e os que lutam para uma mudança mais radical e mais na linha ideológica inicial do partido, a socialista. Assim explico a divisão dos movimentos sociais em Altamira, aqueles que lutavam antes contra a barragem e hoje calam a boca quando se fala do tema, e até receberam dinheiro para suas ações comunitárias vindos da própria empresa encarregada da realização da obra.

Para mim, é a única forma de entender como uma obra como esta, denunciada pelos científicos, pelos indígenas e pela movimentação internacional, pode estar hoje iniciada e de maneira ilegal.

É muito importante então, e mais que nunca, ter uma visão política bem clara da situação. Pensei por muito tempo que a razão de realizar a hidrelétrica estava relacionada à mitologia moderna do avanço tecnológico e da exploração infinita de recursos. Se esta dimensão é aquela que percebe a maioria da população, manipulada com o conceito do progresso, a razão fundamental seria mais política. Mas por que esse interesse e essa pressão sobre o PT por parte de seus aliados? Parece claro: os recursos da Amazônia. A Amazônia é ainda pouca explorada e muitos minérios dormem poucos metros abaixo da floresta e dos rios. O lucro potencial é imenso e Belo Monte vai fornecer energia e força de trabalho para esta futura exploração.

Para manter-se no poder nas próximas eleições em 2015 (ano programado para o início da produção de energia em Belo Monte!), o governo QUER Belo Monte. Por isso a pressa e o desrespeito aos procedimentos legais, aliados a um contexto local de alta corrupção e conflitos de terras. Por isso a necessidade de aprender sobre a política brasileira, a história do país e o que está acontecendo hoje: para lutar juntos a fim de que não se realizem obras como Belo Monte, mas também para manter o progresso do país. Não o progresso da mitologia da modernidade; mas sim o progresso da democracia, da luta pelo poder do povo, que ainda está em total construção tanto aqui quanto no mundo inteiro.

Transamazônica: a estrada da poeira

Depois de um jogo da corda com os amigos de Natal, começo a pedir carona até Fortaleza no Ceará. De lá caminho para o oeste, através do Maranhão, até chegar a Imperatriz, perto do inicio da Transamazônica, que atinjo através de uma carona « Dom-Eliseu – Marabá ». Meu objetivo é Altamira, onde tenho um contato e onde acontece o projeto controverso da hidrelétrica de Belo Monte.

É impossível conseguir uma carona e tenho todo o tempo para contemplar uma mineração a céu aberto nesta tarde a pé sem ajuda nenhuma. À noite chegou a primeira ajuda, levando-me atrás da pick-up até Itupiranga, uma cidade turística à beira do rio Tocantins. No dia seguinte, volto à Transamazônica num caminhão que leva pessoas do lugar para Marabá. É rapidamente que consigo uma carona com Rodrigo e, casal bem simpático. 3 dias são necessários para chegar a Altamira, num calor grande, na poeira da estrada e várias vezes com a ajuda de máquinas ou outros caminhões para subir! Um caminhão a oferecer tal ajuda transportava madeira ilegal, como muitos outros que só andam à noite. A corrupção nos postos fiscais permite o tráfico, me contam meus companheiros.

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